É aqui, na tentativa de encontrar uma resposta a essa pergunta, que vamos encontrar o começo da complexidade deste tema.
Vejamos.
Do ponto de vista legal ( jurídico) o casamento é um "contrato civil" entre duas pessoas. Ou seja, é na verdade uma forma de "sociedade 'limitada' " entre dois sócios e onde cada um deles é proprietário de 50% das ações. Nem mais nem menos.
Para exemplificar o que digo, juridicamente cada cônjuge responde igualmente pelos compromissos civís assumidos por qualquer um deles. Inclusive, em certos atos se fazem necessárias as assinaturas de ambos junto a um escrivão, etc.
Do ponto de vista psicológico, essa proporcionalidade se mostra também na educação dos filhos. Neste caso, tanto o pai quanto a mãe têm a mesma responsabilidade, não importanto aqui a qualidade, ou os resultados da educação dada à criança.
Aí surge, naturalmente, uma questão: a da saúde mental, ou do equilíbrio psíquico da cada um dos responsáveis.
À primeira vista talvez haja uma tendência a se pensar que - de fato- pesos e medidas devam ser diferentes ao se responsabilizar um pai ou uma mãe que vivam uma relação onde um deles esteja comprometido por distúrbios psicológicos.
Ou seja, não seria justo se atribuir a mesma responsabilidade para ambos se um deles "não pode assumir os seus 50%".
Mas, se aguçarmos um pouco mais o nosso olhar, veremos que, mesmo assim, essas responsabilidades são iguais. Mas, como assim? A não ser em situações concretas, onde se considera, até legalmente, que o outro está incapacitado para assumir responsabilidade e gerir sua própria vida ( fato esse também -muitas vezes bastante questionável) - estamos falando, em todas essas situações citadas acima, de DIFERENÇAS.
O que digo agora é o óbvio: todos os casais são constituídos de pessoas diferentes.
Não há , neste planeta, uma pessoa igual à outra. Essa diferença inquestionável, e que é o grande nó das ciências humanas, pode ocorrer em graus infinitamente variados a ponto de nos iludirmos e pensar até que existam, de fato, "iguais", ou "complentares" ( a "outra metade da laranja" ).
Para constatarmos o que eu acabo de escrever, bastam alguns segundos de conversa entre duas pessoas para que se detecte, imediatamente, que elas não são iguais em nada.
Alguns aspectos , traços pessoais, físicos ou psicológicos, podem nos sugerir alguma semelhança entre elas. Entretanto, quando vamos mais fundo na busca do que cada um daqueles aspectos significa , vemos logo que a única semelhança se encontra no nome que dão ao que interiormente sentem. Os dois - ao verem por exemplo uma obra de arte - na realidade estão se ligando em aspectos diferentes do que estão vendo e, assim, avaliando de modo bastante distinto o objeto que ambos denominaram de "lindo". O lindo para um não é o mesmo lindo para o outro.
Essa diferença é muito sutil mas representa apenas o "limite" dessa questão. Assim, é impossível a igualdade, raríssima a semelhança, e praticamente total , constante e natural a diferença entre dois seres humanos.
O FATO "DIFERENÇA" NO CASAMENTO...
O que vou falar agora se aplica a qualquer relacionamento humano mas, como o nosso tema aqui é casamento, focalizarei mais essa relação e os fenômenos que costumam acontecer nela.
Esse fato, "diferença", poderia ser considerado como um dos fatores principais para o surgimento dos "desencontros", das "desarmonias" e de uma gama enorme de outros problemas que os casais enfrentam na vida conjugal. A diferença, à qual me refiro aqui, é o que determina a forma de percepção da realidade de cada pessoa.
Em outras palavras, essa diferente maneira de cada pessoa ver a sua realidade, faz com que não exista somente uma verdade, única , insofismável. Cada um de nós tem a sua própria verdade, a sua maneira única de perceber o mundo ao seu redor.
Essa constatação deveria ser suficiente para sabermos que não somos donos da verdade mas esquecemos isso, passamos a acreditar que a única verdade é a nossa e que as dos demais são "opiniões equivocadas", ou inverdades. Dizendo de outra forma,"eu sei o que é certo e você não sabe". Ou , "eu estou certo(a) e você está errado(a).
Esse posicionamento extremo é comumente observado em muitos casais que apresentam dificuldades conjugais.
É relativamente fácil a gente entender o porque disso. Essa rigidez de percepção não permite que a pessoa entenda que a sua realidade é VERDADEIRA para sí e que a realidade do outro é igualmente VERDADEIRA para o outro, sendo isso um fenômeno profundamente compreensível pelo que já expus acima.
Tenho presenciado, em inúmeros casais, cada cônjuge considerar que a diferença entre seus modos de perceber a realidade é uma maneira do outro se colocar CONTRA ele e não como um sinal da inevitável DIFERENÇA entre eles..
Seria então a diferença entre as pessoas a causa principal das dificuldades conjugais?
Na realidade não é bem a diferença que causa o problema no casamento mas provavelmente
a pouca, ou ausente, aceitação e compreensão do significado e da existência inevitável dela.
Muitas pessoas confundem ACEITAÇÃO da diferença com CONFORMISMO ou ACOMODAÇÃO.
É importante que se desfaça logo esse equívoco.
Aceitar a diferença não é se conformar ou se acomodar a ela mas sim uma compreensão profunda de um dado da realidade que se impõe a todos nós: cada pessoa é única.
Esse dado que é tão óbvio, e sobre o qual já me referi linha atrás, nem sempre se mostra tão óbvio nos relacionamentos humanos.
Muitas razões existem para isso acontecer mas focalizarei somente dois agora.Um deles é o medo que a pessoa tem de "perder sua identidade";
Um outro é o medo de perder o "domínio sobre o outro".
Assim, aceitar a diferença de opiniões nem sempre é tarefa fácil pois, ao aceitar que o outro está com a razão, temos que admitir que estamos equivocados, errados.... e isso pode nos custar uma revisão de nossos valores e de referenciais significativos para o nosso equilíbrio psicológico. Aceitar a verdade do outro é admitir o nosso equívoco diante da nossa realidade. Mas estes temas são muito complexos e discutí-los aqui aumentaria muito o tamanho desta pequena apresentação. Num futuro documento me deterei mais neles.
Mas, será que as diferenças entre as pessoas são sempre sentidas como negativas pelo outro? Atrapalham a convivência? Sempre ? Não. Elas, em certos momentos, promovem até uma aproximação. É o que geralmente acontece quando se inicia uma nova relação .Quando os relacionamentos começam, quase sempre essas diferenças , costumam ser o que "encanta" os parceiros. A novidade, a paixão, a curiosidade, o desconhecido, a surpresa, tudo isso provoca uma emoção e uma vibração que colore o relacionamento com cores agradáveis .Aos poucos, isso vai mudando, quase sempre a partir do reconhecimento e constatação das diferenças que provocam desencontros de idéias em temas do dia-a-dia, considerados fundamentais dentro da perspectiva de cada um dos cônjuges.
Isso, dito do modo como disse acima, pode parecer simples demais. Mas quero lembrar que esse fato é apenas um "detonador" de uma bomba que foi construída há muito tempo atrás, dentro de cada um deles e que está diretamente ligada às sua histórias pessoais.
A HISTÓRI A DE CADA UM E O CASAMENTO
Quando um homem se aproxima de uma mulher ( ou vice-versa) e os dois resolvem viver uma vida de casados, ao se unirem trazem para o casamento duas histórias de vida completamente diferentes ( mesmo que pareçam semelhantes ).
Essas histórias são construídas através de um número infinito de experiências entre as quais aquelas que , claramente, são responsáveis por modos de percepção nossos, que constroem grande parte do nosso SELF e que abrangem dimensões tais como: 1) Nosso modo de ver o mundo e a realidade ao nosso redor, expectativas em relação ao sentido da vida....; 2) Nosso modo de crer como as pessoas nos vêem, o que esperam de nós, que idéias fazem a nosso respeito... ; 3) Nossos sentimentos pelas pessoas, nossa forma de ver o ser humano como amigo, inimigo, confiável, não confiável...; 4) O que esperamos de nós mesmo, nossa opinião em relação a nós mesmos como pessoa, nossa auto-imagem...
Essas quatro dimensões da construção do nosso EU são, a meu ver, fundamentais para se entender como a história de cada parceiro interfere na construção do relacionamento conjugal.
É claro que esse EU é construído por muito mais do que esses quatro aspectos apresentados por mim nas linhas acima.
Fatores tais como: a familiar onde aquela pessoa foi educada, o grupo social ao qual ela pertenceu durante sua infância e adolescência..., as características do momento político de seu país, de sua cidadade..., sua constituição biológica , sua formação religiosa , e muitos outros, constituem a matéria prima para aquela referida construção.
As experiências familiares , sem sombra de dúvida, são elementos importantíssimos na determinação de certos posicionamentos e percepções que os cônjuges deixam transparecer e pelos quais lutam dentro do casamento.
Quase sempre os cônjuges reproduzem na relação deles o que aprenderam sobre a vida conjugal, os papéis de mãe e pai, filhos, irmãos....Muitas vezes os casais repetem - na íntegra - as falas e idéias que seus pais, tios, avós lhes ensinaram. Essas figuras parentais são verdadeiros modelos que acabam sendo copiados - mesmo quando os próprios cônjuges os repudiam; Mas,... no final.... acabam repetindo.
Como se aquela fosse a VERDADE que se esconde nos níveis mais profundo do psiquismo deles.
Quem eu sou?
Como cheguei a pensar do modo que penso?
Em quais coisas EU realmente acredito?
O que quero construir para mim, agora e para o futuro?
O que sinto por meu parceiro?
O que é, para mim, uma família?
Como devo ser como mãe, pai ?
Como quero educar os meus filhos?
...Essas poucas, e simples, perguntas já podem nos mostrar um fato importante: cada cônjuge geralmente tem respostas bem diferentes para essas mesmas indagações.
Essa diferença está , basicamente, no seu modo de ser, no seu modo de perceber o mundo, as pessoas e a si mesmo. Em outras palavras, em seu SELF( si mesmo).
É no contexto dessa diferença entre os SELVES do casal que surgem os desencontros cojugais. E é , paradoxalmente, nessa mesma diferença onde poderemos encontrar a maior riqueza desse relacionamento. Mas, para que esse "desencontro" se transforme em "riqueza" seria interessante que , antes de mais nada, cada um dos parceiros compreendesse , da melhor maneira possível, como o seu SELF funciona e como ele dinamiza o seu comportamento dentro da vida conjugal.
A RELAÇÃO CONJUGAL COMO UM PRODUTO.
" O casamento é a relação.
"Tudo indica que o que atrapalha o casamento e "algo que existe ENTRE" cada um dos cônjuges. As dificuldades que existem nos casamentos quase sempre não estão NO MARIDO nem NA ESPÔSA. O problema mais comum está no resultado do encontro desses dois selves. A relação é que está "errada".E é sobre ela - a relação - que o terapeuta de casais procura focalizar seu trabalho.
Costumo dizer aos casais que atendo: "O meu cliente está sentado entre vocês dois.
" Esse cliente é uma "abstração" e se chama A RELAÇÃO.
Por que tal afirmação? Cada um deles , individualmente, pode ser uma pessoa adorável, gostável, sociável, equilibrada, amiga, inteligente, afetuosa, etc.,.... mas quando se liga ao outro- e vive esse papel de cônjuge- surge essa nova dimensão "a relação".
Esse PRODUTO ( o relacionamento cojugal ) desses dois seres formidáveis, encantadores, etc...., pode descaracterizar o que eles individualmente são e dar origem ao aparecimento de um contato humano cheio de cáos, de imcompreensão, de bloqueio da inteligência, de desafeto.....
Principalmente quando um casal é formado por duas pessoas tão bonitas, interessantes, inteligentes, afetuosas.... as pessoas têm dificuldade para entender "por que não deu certo". Dizem: "Mas eles têm tudo a ver um com o outro. Formam um par tão bonito!..."
Mais uma vez eu lembro que esse relacionamento é UM PRODUTO e não uma soma ou subtração. Esse produto , tal como ocorre em algumas reações químicas, que no meu tempo de estudante a gente dava o nome de "combinações", produz uma substância nova, diferente do que ocorre nas " misturas " químicas.
E mais, há substâncias que se combinam e outras que apenas se misturam... No casamento pode ocorrer coisas desse tipo. Num casamento não pode haver somente "mistura" pois, se isso ocorrer, não houve realmente casamento mas somente um " lamentável equívoco".
Quando isso acontece - a mistura - é compreensível que alguns "casais" procurem realizar a anulação do seu contrato matrimonial. Na verdade não houve casamento entre eles.
O CASAMENTO E COMBINAÇÃO QUÍMICA...
Na realidade todo casamento , para ser assim considerado , precisaria ser semelhante a uma combinação química. Mas sabemos que há combinações e combinações. Algumas dão como resultado substâncias agradáveis, suaves, balsâmicas. Outras, por sua vez, substâncias ácidas, explosivas, desagradáveis no sabor, no cheiro.. É... acontece assim..
Tudo indica que as combinações do primeiro grupo citado geram casamentos tranqüilos, duradouros... e os do segundo grupo aqueles onde há grandes chances de terminar em separação, ou , na pior das hipóteses, gerar casamentos desarmoniosos, com muito sofrimento para ambos os cônjuges.
Não entrarei, propositalmente, na apresentação dos casamentos onde uma série de sinais de patologia estão presentes. Por exemplo os casais onde a combinação se dá para a manutenção de uma doença que se instala na própria relação. Ou seja, as características da relação alimentam necessidades particulares dos cônjuges ao mesmo tempo que eles constroem aquela relação "indesejada".
Prefiro me ater àquelas relações mais comuns ( das quais temos vários exemplos na família, entre amigos e em nós mesmos enquanto espôso ou espôsa ) e enfocar agora algumas características de uma relação que nos faz sofrer por estar FALIDA ou FALINDO.
Nesse estágio de falência do relacioamento há muito sofrimento nos dois parceiros. É um momento em que eles se dão conta de que "o sonho acabou", ou "não consigo..." , "onde falhei..."...
Sentimentos desse tipo são comuns e a dor que os acompanha é muito forte.
Quando não há essa dor, nos dois, na verdade não houve casamento, ou apenas uma ilusão de que ele tenha existido. .
O término de um casamento é uma enorme frustração pois é a verdadeira descoberta da intrasponibilidade da barreira que separa um do outro: a diferença incontornável.
É um olhar para trás e ver uma confusão de imagens que trazem recordações produndamente belas e de outras que se desejaria arrancá-las até o mais fundo de suas raízes para que sumissem no esquecimento, para sempre.
É gosto de mel e vinagre, é calmaria e vendaval....
É experimentar , ao mesmo tempo , o desejo de SOBREVIVER e , para conseguir isso, a presença profunda de um sentimento: BASTA!!!
QUANDO NÃO DÁ MAIS PARA OUVIR, NEM FALAR...
Quando a relação está falida, ou falindo, é comum a gente perceber, entre outras coisas, o seguinte:
1- A impossibilidade de ouvir o outro.
Eles até falam um para o outro mas o discurso chega aos ouvidos de cada um deles com enormes distorções. É como se ouvissem mas não pudessem apreender o conteúdo da mensagem que foi enviada. Essa atitude é , via de regra, bi-lateral;
2) Esgrima é o esporte mais praticado.
Embora a maioria nunca tenha praticado a arte da esgrima, os parceiros se armam ( os dedos são os floretes ) e vivem esgrimando ( apontando os dedos um para o outro ) uniformizados com suas capas ( suas falas ) que bailam entre golpes que partem de ambos os lados.
3) As acusações são respondidas ( "defendidas" ) com acusações.
Nesses casos, o vocabulário é sempre antigo: a queixa é sempre de fatos passados que não foram resolvidos, que estão engavetados, com poeira, mas que para cada um deles parece a última notícia do dia ( um furo de reportagem ).
4) Os olhares... Ah!... Os olhares. ....
Num rápido piscar de olhos, se transformam de serenos para faiscantes. Às vezes parece que , se pudessem, fulminariam o outro com o olhar. São verdadeiros raios em dias de tempestade.
5) E a fala na terceira pessoa? ELE/ELA.
Nas sessões de terapia de casais, essa maneira de falar surge como se o outro não estivesse ali, presente.É uma fala indireta que talvez nos diga como está difícil falar diretamente como o outro e quanto precisam de um interlocutor, um mediador, para que a comunicação possa acontecer.
6) Paralelamente a um comportamento pouco amistoso durante a sessão de terapia de casal, , muitos cônjuges conseguem manter uma aparência exatamente oposta no seu ambiente social a ponto de poucas pessoas perceberem que as coisas não andam bem com eles.
7) Os ressentimentos surgem no discurso de dois modos:
a) sutilmente :
"Você poderia ter agido de outra maneira e me feito sofrer menos...";
b) aberta e agressivamente :
"Você nunca me considerou uma pessoa. Eu me sentia sempre como se fosse uma 'coisa'.
Agora tenho coragem para lhe dizer que o eu mais desejo é que você sinta e passe por tudo que eu passei.
De preferência, que se sinta pior do que eu senti.
8) Dificuldade para assumir sua parcela de responsabilidade na relação.Ainda que cada um admita - racionalmente - ter sua parcela de responsabilidade na deterioração do relacionamento, é comum surgir um discurso onde O OUTRO É QUE É O ÚNICO CULPADO.
9) Os filhos, embora sejam tema no início dos atendimentos, quase sempre ficam como "fundo" , como "cenário" da problemática apresentada pelo casal. Os focos sempre ficam virados, na maior parte do tempo, para o marido e a mulher e o desencontro deles.
A SEPARAÇÃO É SEMPRE NECESSÁRIA?
Em alguns casos ela é fundamental pois há relacionamentos que não apresentam a mínima chance de se manterem saudavelmente.
Farei abaixo um a breve descrição dos dois tipos de casais: os que comumente se separam e os que dificilmente se separam.
CASAIS QUE COMUMENTE SE SEPARAM
Tenho observado qua as separações ocorrem principalmente quando o casal, ou um dos cônjuges, se apresenta profundamente incapacitado para ouvir, e portanto , dialogar.
Nesses casos, pelo menos um deles adota uma atitude altamente defendida . Essa pessoa, em atitude de defesa, geralmente é muito rígida, considera-se absolutamente certa em suas opiniões e verdades, considerando assim o outro como o único, ou o mais, errado.
CASAIS QUE DIFICILMENTE SE SEPARAM
Os casais que, geralmente, não se separam são aqueles que, mesmo passando por momentos muito difíceis no relacionamento, ainda cultivam um certo grau de admiração e respeito entre eles. Geralmente são pessoas dispostas a assumir suas responsabilidades no seu processo de desencontro , desejam rever as bases da relação e comprender, de fato, o que está acontecendo com o casal.
É comum haver, pelo menos em um deles , um apreço grande pela Família sendo que, por ela, se mostram capazes de lutar bravamente pelo do bem-estar das pessoas que a compõem.
Finalmente, pelo menos uma das pessoas desse casal se mostra bastante flexível e capaz de aceitar as diferenças que existem entre ela e o seu parceiro.
E OS FILHOS?
QUAIS AS CONSEQÜÊNCIAS DA SEPARAÇÃO PARA A VIDA DELES?
Tudo dependerá do modo como os pais viveram antes da separação ,como se separaram ( o clima da separação ) e como mantiveram o contato com os filhos depois disso tudo.
É fácil se perceber que idealmente, tanto os filhos como os pais, prefeririam poder viver todos juntos. A família ainda é uma instituição desejável.
Quando há uma separação a frustração é geral ( para pais e filhos ) pois ela impede que uma série de sentimentos e vivências de relacionamento ocorram já que o contexto "lar" está definitivamente desfeito.
"Lar" é, para todos os seres vivos gregários, o núcleo, a segurança, o lugar onde o afeto acontece mais plenamente. Não ter mais o "lar" é ficar num espaço sem forma e sem cor, sem textura, sem peso, sem tamanho definido...
Não ter mais um "lar" é muito ruim e não é a toa que os filhos ( e os pais também) choram quando há uma separação: é uma perda irreparável.Entretanto, não podemos deixar de pensar que essa perda é apenas uma parte do todo: da parte boa, gostosa, construtiva...
Não podemos nos esquecer que quando falamos aqui na separação, ou nos casais que comumente se separam, as pessoas que compõem essa família raramente experimentam esse lado tão gostoso, sadio. Ao contrário, vivenciam momentos de muito sofrimento, de muita dor, de muita insegurança, de enormes frustrações... Nesses casos, será que poderíamos afirmar que existe alí, realmente, um "lar".
Penso que, tanto para os pais como para os filhos, quando o "lar" já não existe, ou existe somente como um "lugar geográfico" , um "dormitório", um "refeitório" ou uma "agência bancária" ( mesada, pagamento de contas... ) e , além disso, o afeto já está rarefeito e os contatos entre pais e filhos são somente tangenciais, de fato, o LAR deixou de existir.
Retornando, acho que os filhos preferem ter seus pais morando com eles. Mas é evidente também que eles valorizam um lar equilbrado onde a estabilidade emocional , o afeto e o respeito sejam elementos muito presentes. Brigas e discussões não fazem de um lar um ambiente por si só negativo quando representam sinais das diferenças entre os pais. Mas elas só são sentidas desta forma quando junto aos desencontros ficam evidentes o respeito pelo outro e a busca de um entendimento que leve a uma melhoria para a família como um todo.
As brigas do casal em "fase terminal" são quase sempre "sem sentido" para quem as presencia. São baixas, desrespeitosas, agressivas e , geralmente, não visam nenhuma melhoria para o grupo familiar. Essas brigas são profundamente prejudiciais para os filhos e geralmente são fontes geradoras de problemas, atuais e futuros, para eles.
Nesses casos, a possibilidade dos pais constituirem novas famílias, mais equilibradas, pode ser uma chance dos filhos reaverem, ou até viverem pela primeira vez, uma experiência de paz familiar, de estabilidade emocional e afetiva de que tanto necessitam para poderem desenvolver mais equilibradamente suas experiências de vida.
TENTANDO UMA CONCLUSÃO:
Através desta simples exposição sobre um tema tão vasto e complexo, onde tentei me deter em alguns pontos que considero fundamentais para se realizar um trabalho de ajuda psicológica com casais, podemos concluir que os casais podem se beneficiar de uma ajuda desse tipo desde que sejam observados alguns aspectos que são:
1- Quando buscar ajuda;
2- O que esperar desse tipo de atendimento.
Quando buscar ajuda ?
O ideal é que não se deixe acumular muitos "desencontros" por muito tempo. Os ressentimentos acumulados funcionam como um corrosivo nas relações , impedem a comunicação e provocam sentimentos que vão construindo um afastamento progressivo em relação ao outro e gerando frustração e diminuição da consideração e do afeto.
O que esperar desse tipo de ajuda?
A dificuldade maior geralmente se encontra na aceitação da diferença entre as pessoas. A não aceitação dessa diferença provoca uma dificuldade para entender a reação do outro e isso é identificado como uma ação de retaliação, de agressão ao outro cônjuge.Através desse tipo de ajuda podemos esperar que o casal possa ver mais claramente esse fato ( a diferença ) e , além disso, entender as conseqüências dela na qualidade da relação que está sendo criada.
E O AMOR, ONDE FICA NISSO TUDO?
Talvez para quem leu este artigo todo, ficou faltando uma porção de coisas. Entre elas essa palavrinha pequena , que parece estar acompanhando a gente durante toda a vida e principalmente quando o assunto é casamento. O Amor.
Propositalmente não falo nele de forma direta pois isso já é muito citado, em prosa e verso, em qualquer livro ou documento que se preocupe em refletir sobre a relação entre os seres humanos. Mas, se perceberam bem, o sentimento amor está permeando todo esse artigo, das mais diferentes formas. O amor, para mim, não deveria ficar restrito às cenas românticas ou sexuais, às quais nos acostumaram a associar através dos filmes e das obras literárias. Deveria, sim, estar presente na proposta de entendimento entre as pessoas, na vontade de encontrar modos de construir relacionamentos mais verdadeiros, mais sinceros.
Por isso, mesmo quando um casal opta por se separar, depois de um esforço conjunto para chegar a uma compreeensão do que está dificultando o relacionamento deles, o amor poderá continuar plenamente presente pois, se eles conseguirem aceitar um ao outro e a si mesmos, de forma sincera e profunda, estarão dando uma prova plena de respeito, de consideração e, portanto, de amor.
Não é o amor que consolida um casamento. Não é o que faz com que as pessoas casadas permaneçam juntas. Ele é o resultado do encontro bem sucedido, delas.
Tão pouco entendido, tão pouco verdadeiramente vivido, o amor, misturado com outros sentimentos , às vezes parece ficar limitado às manifestações de dedicação, de doação, de desprendimento, de anulação de si , de abdicação de si pelo outro.
Não concordo com isso.
No amor, no qual acredito, o amado não pode anular o amante.
As pessoas que, em nome do amor que sentem pelo outro, se anulam, verdadeiramente não amam nem o outro nem a si mesmas. Esse amor é tudo menos amor.
No casamento, o verdadeiro sentimento de amor, se apresenta como uma proposta de compreender, aceitar, mudar, construir, reconstruir a relação e, portanto a vida do casal. .
Mas, tudo isso, feito a dois, se não a relação morre e, com ela, o amor, ou vice-versa.
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