31 julho 2010

Uma compreensão medicinal para a alma



“Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros da prisão escutavam” (At. 16:25)

Muitas circunstâncias não pedem licença, não batem à porta e nem avisam que estão chegando. Simplesmente, se instalam e pronto. Doravante, nos cabe a habilidade e maturidade para lidar com as consequências…

Com Paulo e Silas, missionários cristãos do primeiro século, não foi diferente! Movidos por uma visão divina, dirigiram-se à Macedônia para propagar a fé em plena obediência à vontade de Deus. Quando chegaram à cidade de Filipos, procurando um lugar próprio para praticar uma das disciplinas espirituais mais prazerosas da vida (a oração), estavam sendo importunados por uma mulher possuída por um “espírito adivinhador” (At. 16:16-18). Logo, Paulo, em nome de Jesus, a libertou (v. 18). Daí, se desencadeou grande perseguição a ele e a Silas por terem destruído uma estrutura sistêmica-maligna-rentável da cidade (v. 19a). E tal realidade gerou agressividade pública, pois “os arrastaram para a praça, à presença das autoridades” (v.19b); açoites, pois “os pretores (magistrados) “rasgando-lhes as vestes, mandaram açoitá-los”; cárcere (v. 23) e prisão, pois “lhes prendeu os pés no tronco” (v.24).

Não obstante, “por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus…” (v. 25). Não deveriam estar magoados com Deus? Afinal, foi Ele quem os direcionou à missão em Filipos! Não deveriam estar ressentidos e se retroalimentando no cárcere em que foram encerrados? Pois, não é assim que muitos se encontram quando a Fé Cristã implica em açoites, agressividades e prisões…? Não é assim que ficamos quando somos injustamente imobilizados nos “troncos” da maldade alheia?

Todavia, em meio às circunstâncias da vida e às permissões divinas, próprias de quem realiza a obra de Deus, Paulo e Silas nos surpreende transformando lágrimas em louvor, dor em adoração, cárcere em liberdade e ressentimentos em testemunho intrépido quanto à fé que possuíam… Que altruísmo, que postura, que maturidade… Que irmãos admiráveis…

Não ficaram remoendo as acusações indevidas na praça. Não perderam tempo focando àqueles que abusaram e usaram do poder… Não ficaram eternamente perguntando a Deus: Por quê, por quê, por quê… Embora, o pudessem.

Ao invés disso, por entre os ferros vazavam o louvor (v.25) que ia ressoando pelos corredores da prisão, enchendo corações de homens feitos “bichos” encerrados atrás das grades… Que homens são esses e que canções são essas, deviam os presos imaginar? O que celebram e o que os fazem cantar?

São homens que entenderam que a Fé no Nazareno não os imuniza de muitas das mau-venturas na vida. Antes, pode nos conduzir a elas… São homens que, devido à relação e experiência com o Verbo encarnado-ressuscitado, veem na afronta por causa do Seu nome, um motivo de dignidade às suas vidas. São homens, enfim, que não apenas tinham uma visão, mas que eram possuídos por uma visão: a de “ir buscar para o Cordeiro a recompensa do seu sacrifício”, como diriam os Morávios dezoito séculos depois.

Este artigo é só para compartilhar uma coisa com você, leitor: “Todo ser que respira, louve ao Senhor” (Sl. 150: 6). Pois, Jesus, como alguém já disse, é o mais fascinante projeto de vida. É o totalmente Outro. É aquele que só ao pronunciar o nome – enche os corações! Como Spourgeon mencionou: “é o venerado de nossas almas”. Constrangidos por tamanho amor (Jo. 3:16), conscientes da magnífica grandeza (Is. 54:5) e afetados por uma vocação visceral (At. 9:15; 16:9), o coração prorrompe em louvor em meio à dor. É o paradoxo possível. A alma canta em meio aos açoites. É o possível paradoxo cristão. É por causa d’Ele, é por causa d’Ele…